A mídia somos nós
Gabriel Priolli
A essa altura dos acontecimentos, “é do conhecimento até do mundo mineral”, como diz Mino Carta, que os leitores de mídia impressa estão migrando aceleradamente para as plataformas digitais. Dados do TGI-Brasil mostram que, de 2011 para 2012, a internet teve um crescimento de audiência de 9%, enquanto os jornais perderam 7% de leitores e as revistas, 8%. De lá para cá, é certo que essa tendência se manteve.
Sabe-se também, de outro lado, que a maioria dos telespectadores agora usa duas telas ao mesmo tempo, a da tevê para ver os programas e a do celular, ou do tablet, para comunicar-se nas redes sociais. Pesquisa de comportamento do Ericsson Consumer Lab, de 2012, indica que o número de pessoas que combinam redes sociais com tevê aumentou 18% no mundo e 25% no Brasil, sobre 2011. Já são pelo menos 62% os telespectadores brasileiros que tuítam ou “feicebucam” durante a novela, a série, o futebol, o que estiverem vendo.
Somando uma coisa à outra, o que se enxerga não é apenas uma mudança de suporte físico no consumo de informação. É uma mudança essencial no ato de consumir. Foi-se o tempo de receber os conteúdos passivamente, refletir sobre eles e comentá-los com a família, os amigos, os colegas de trabalho, muitas vezes, no dia seguinte.
Agora, ser informado e comentar a informação são atividades simultâneas. A pessoa lê ou vê alguma coisa interessante e, de imediato, manda esse conteúdo para a sua rede de contatos, com a sua opinião anexada, ainda que seja um singelo “like”. Ou seja: agora, todo consumidor de informação é também, ao mesmo tempo, um editor e um distribuidor.
Por exemplo, eu não leio nem assino jornais de Pernambuco, mas amigos de lá se encarregam de me dar acesso às notícias desses jornais, que já me chegam comentadas. Vale o mesmo para qualquer parte do mundo e para todo tipo de informação, seja texto, áudio ou vídeo, vindo da fonte que vier. E vale também no sentido inverso. Seleciono o que leio ou vejo, faço comentários e distribuo. Circulo informação e opinião para centenas de pessoas, que reproduzem para outras centenas, logo somos milhares e assim somamos milhões.
É importante que os veículos quantifiquem o compartilhamento de seus materiais nas redes sociais, para valorizar as tabelas de publicidade e assegurar o financiamento que os mantém vivos. Mas convém, sobretudo, que estudem mais esse novo comportamento do público e ajustem sua mentalidade a ele. Convém que desçam do pedestal, ampliem os mecanismos de participação, estimulem a colaboração dos consumidores, compartilhem a produção do conhecimento.
Nesse tempo em que todos são mídia, quem é mídia há mais tempo está em vantagem. Ganha mais em autoridade e prestígio, se souber jogar junto com o público, em vez de apenas cantar o jogo para ele.
Gabriel Priolli foi editor executivo e diretor de redação de IMPRENSA entre 1987 e 1991. Hoje é produtor independente de TV. [gpriolli@ig.com.br]
Fonte: Portal Imprensa | 04/11/2013 13:00