Recebi com surpresa esta manhã um artigo de Fernando Gabeira, discutindo brevemente, porém de forma objetiva e reta, o fenômeno da Mídia Ninja na cobertura das manifestações e movimentações populares nas ruas do país. Gabeira fala da ausência de qualidade técnica e, na minha opinião, no principal problema do suposto avanço do canal da Mídia Ninja: o entendimento de ‘revolução’ jornalística não sob a conotação de inovação, mas sim sob a conotação de ‘revolta’.
O jornalismo precisa se reinventar, disso não resta dúvida. Revistas famosas fecham as portas, enquanto os maiores jornais do país tentam desesperadamente recuperar suas receitas, ‘pedagiando’ o acesso a seu material online. Novos modelos de negócio serão necessários, suportados por novos processos de apuração e produção e novas plataformas tecnológicas para difundir esse conteúdo. A Mídia Ninja, embora tenha ganho rápida popularidade também por suas convicções políticas e ideológicas, não possui algumas das características que ostentam, a saber.
CROWDFUNDING
Muitos projetos inovadores hoje em dia buscam apoio do usuário médio de internet via sites de crowdfunding, nos quais um memorial ou vídeo descritivo do projeto engajam leitores a doar pequenas somas, que quando colocadas juntas conseguem financiar essas iniciativas. O principal traço que une os projetos bem-sucedidos nessas empreitadas é a qualidade técnica de suas produções. A Mídia Ninja sugere que pretende se desvincular de sua principal fonte de renda hoje – o erário – angariando fundos por meio de seus leitores, porém do ponto de vista técnico, poucos provavelmente pagariam para receber flashes, fotos e filmagens caseiras tiradas por celulares aqui a ali.
IMPARCIALIDADE
Um projeto inovador de mídia precisará trazer consigo os valores admirados na produção jornalística – imparcialidade, independência e exatidão – e também possuir uma linha editorial clara, com a qual seus leitores possam se identificar.
A Mídia Ninja possui uma linha de identificação com seus leitores, porém não editorial, e sim ideológica. É nesse momento que se pode questionar o verdadeiro caráter dessa nova entidade: são os ninjas uma nova mídia, ou apenas um novo ‘movimento’?
Por fim, até que a Mídia Ninja possa realmente criar fontes de receita por si só, atue de modo a ouvir os dois lados e cobrindo escândalos que atravessem seus preconceitos ideológicos iniciais e possa reportar com exatidão – ou seja – fornecendo a seus ‘repórteres’ material e ferramentas de cobertura adequadas, há poucas chances de que ela possa oferecer ao mercado um produto ‘vendável’ como dizem seus líderes.
Temos, ainda assim, muito a aprender com a rápida evolução da Mídia Ninja, e sabemos disso. Falta agora eles saberem e admitirem que talvez tenham também algo a aprender conosco.
CARLOS MATOS (Editor)
FINHO LEVY (Publisher)
Fonte: Bastidores Líderes – Edição do dia 16/08/2013